Olá pessoal. Tudo certo?!
Essa é uma resposta para um . No post dele, chamado “Fire all the managers” ele defende que “gerentes” são desnecessários. Além disso, defende que eles impedem a “democracia organizacional”.
Como discordo dessa posição, apresento alguns de meus argumentos para pensar diferente. Para isso, começo do “início” …
O gênese empresarial
Toda empresa começa, basicamente, com o desejo de um empreendedor de atender uma necessidade e/ou desejo latente de uma comunidade consumidora;
Essa iniciativa empreendedora demanda competências muito específicas e, em nossa cultura, raras.
Cabe ao empreendedor a responsabilidade de, mesmo em estágio inicial, (1) constituir uma proposição específica de valor, que; (2) será monetizada (paga) conforme a percepção do mercado consumidor (de acordo com o grau de especialidade), e que (3) será entregue através do emprego de recursos e processos adequados.
Perceptivelmente, empreender é uma tarefa árdua. Logo,
A crença do empreendedor lhe confere o status automático de “líder”. Isso é indispensável. É o empreendedor que tem um sonho; uma visão de futuro; uma missão.
O sucesso de seu empreendimento depende, entre outras coisas, de sua capacidade de comunicar (tornar comum) o seu anseio.
Para realizar o seu sonho/visão/missão, o empreendedor, por sua vez, precisa ter o apoio de pessoas (trabalho) e alguma infraestrutura (capital). Ele também deverá ter o “sagrado direito” de escolher com quem trabalhar e, de certa forma, como deseja trabalhar. Ele é o “dono” do negócio. Lembrando:
Negócio = Proposta de Valor + Estratégia de Monetização + Processos/Recursos Chave
Logo, precisará tratar, também, premiar os outros envolvidos de forma que estes aceitem participar do empreendimento. Esse “prêmio” vem em forma de remuneração.
A relação entre empreendedor e colaborador (funcionário ou não) estabelece uma hierarquia.
Por que sempre há remuneração?
Porque ninguém trabalha de graça! Pessoas tem necessidades e utilizam o dinheiro como viabilizador do atendimento dessas necessidades.
O empreendedor precisa de gente (It’s all about people) e capital para gerar infraestrutura.
Em uma empresa, há basicamente dois tipos de remuneração:
- Remuneração do trabalho; previsível, estável, decorrente da entrega de valor relacionado ao esforço de um ou mais indivíduos.
- Remuneração do capital; imprevisível, instável, decorrente da disponibilização de capital para investimentos visando de alavancar os resultados da organização.
Por mais ardentes que sejam nossos ideais, sempre haverá esses dois formatos de remuneração que são “invariavelmente” diferentes e, com frequência, têm interesses conflitantes.
A remuneração do capital, pelo risco envolvido, costuma ser, previsivelmente, mais alta.
Além disso,
Há um conflito natural entre o capital e o trabalho; O capital tem recursos limitados e o trabalho tem necessidades ilimitadas.
O empreendedor poderá obter capital de diversas fontes. Seja:
- com recursos próprios,
- um fundo investidor,
- um “sócio”.
Perceba,
o risco de investimento está diretamente relacionado ao risco, ou a falta de garantias. Logo, quanto menos garantias, maior será a remuneração do capital.
Para complicar um pouco as coias, o empreendedor também precisa atender, pelo menos suficientemente, as demandas do “trabalho” que compara, insistentemente, a sua remuneração com a do “capital”.
o empreendedor ganha a responsabilidade de prover equilíbrio (gerenciar) a relação entre capital x trabalho.
Obviamente, por conflitos de interesse, esse equilíbrio implica em uma visão imparcial. Assim nasce a função do gerente.
O gerente tem a responsabilidade primária de equilibrar a relação entre capital e trabalho.
Quando o trabalho “ultrapassa” o capital
Há empresas onde o risco é tão baixo e o capital está tão “suficientemente pago” que é possível perceber uma “valorização do trabalho”. Ou seja, trabalho passa a ser mais difícil de obter que o capital.
Esse é o cenário, naturalmente raro, onde empresas, para reter talentos, passam a pagar prêmios maiores para o trabalho (sem sacrificar o capital). Entretanto, sempre haverá a ameaça externa de uma pressão de novos entrantes.
Definindo Gestão
Há diversos adjetivos cabíveis a gestão. Entre eles, o mais importante, sem dúvidas é decisão.
Gerir implica em decidir. O gestor é acima de tudo um decisor.
Ingenuamente, podemos assumir que todos tomamos decisões. Logo, somos todos gestores. Entretanto, a coisa não é tão simples.
Em um ambinete ideal, o gerente deve tomar suas decisões alinhadas a estratégia que, por sua vez, está alinhada ao negócio (veja a definição no início desse post). Além disso, as decisões devem garantir a expectativa do “capital” e do “trabalho”.
Estratégia é um padrão coerente para tomada decisões.
É verdade que o capital tem condições de premiar (bônus) gestores que conseguem garantir uma remuneração melhor. Naturalmente,
o gestor inteligente saberá que só conseguiu atingir esse resultado com o apoio do “trabalho” e, assim, nascem os programas de participação no resultado.
Em todos os ramos, há os “bons” e os “maus”
Nem todo gestor consegue fazer um bom trabalho. Obviamente,
é mais fácil “ceder” as pressões do “capital” do que atender as necessidades do “trabalho”. Entretanto, esse posicionamento não é capaz de entregar resultado sustentável (consistente e repetitivo).
Perceba,
Maus gerentes não conseguem “manter” o trabalho. Péssimos gerentes não conseguem manter o “capital”
Um bom gerente sabe que, sendo democrático, consegue reter melhores talentos. Em empresas que trabalham com “diferenciação” isso é fundamental.
O gerente está sempre em uma posição delicada
O “trabalho” se reune para acusar o gerente de favorecer o “capital”. Além disso, afirma que ele é um “vendido”, superficial e com pouca “profundidade técnica”.
O “capital” acusa o gerente de fazer defesa do “trabalho”.
O “empreendedor” acusa o gerente de ser um burocrata.
Ninguém gosta do gerente. Mas, ele mantém essas forças, naturalmente em tensão, em equilíbrio.
Por isso, não demita os gerentes. Só, é claro, os ruins.
Era isso.
Breno Ferreira
06/12/2011
Grande Elemar,
Acho que a figura do gerente (ou líder, acho esse um termo melhor), IMO, se faz necessária dependendo da equipe.
Há equipes que possuem a capacidade de se auto-gerenciarem, e também há equipes que não conseguem. Como voce disse em um post anterior seu (nada tão desigual quanto tratar pessoas diferentes de forma igual), times com pessoas menos experiências, as vezes, precisam de um certo micro-gerenciamento. Equipes com muitas pessoas inexperientes, na maioria dos casos, não conseguem se auto-gerenciar e atingir as metas do “capital” de forma mais adequada.
Mas, acho que a figura do gerente “mandão” que só sabe dar ordens, essa é a figura odiada. Um gerente que atua como um líder, ou seja, não atrapalha o time, e está lá para dar apoio, remover obstáculos, e se envolver para melhorar o ambiente de trabalho, esse sim, é um bom gerente. Acho que essa é a principal tarefa do gerente (talvez maior até que manter o equilibrio entre o “capital” e “trabalho, IMO).
Abraços
elemarjr
06/12/2011
Remover obstáculos é uma das maneiras de preservar o equilíbrio.
Equipes com auto gerência são possíveis. Acredito nelas. Empresas é um pouco mais difícil. Ainda assim, nas pequenas, é uma possibilidade.
Empresas maiores podem até conferir autonomia parcial. Mas, não muito mais que isso.
Robson Ramos
06/12/2011
Fala Elemar. Parabéns pelo post!
Isso me remete aquele happy hour do TDC em SP em que houve uma grande debate sobre a figura do gerente e lembro naquela ocasião em que você foi um dos poucos (se não o único) a defender o ponto de vista acima.
Assim como você acredito em equipes auto-gerenciáveis e não empresas.
Além disso, nem todas as equipes são auto-gerenciáveis, pois, isso exige uma grande maturidade da maioria dos membros.
Mas, há também o outro lado da história que implica em gerentes comando/controle, mandões e pouco amigáveis para com a sua equipe.
Abs.
Robson Ramos
elemarjr
07/12/2011
Opa. O hh do TDC foi muito bacana. Temos que repetir.
Giovanni Bassi
06/12/2011
Elemar, você traz o post do ponto de vista da administração clássica e do capitalismo clássico. Tais teorias não são mais tão aplicáveis nos dias de hoje, onde o produto é o conhecimento. Prova disso é que qualquer empresa pequena, sem capital, investidores ou fundos pode fazer uma boa diferença.
Contrapor o capital e o trabalho é uma ideia antiga e ultrapassada. É dessa maneira que a teoria X encara as pessoas: com necessidades ilimitadas, o funcionário só trabalho por dinheiro. E o capitalista quer explorar o desprovido de capital. Marx apontava essas coisas. Eu não acredito nelas como fatais, eu acredito como uma opção. E o trabalhador do conhecimento não aceita mais essas imposições. Ele quer, e tem direito, como toda pessoa, de participar, e de não ser visto como um mero instrumento para o capital.
Posso dizer que na Lambda3 não temos essa visão. Muitos dos nossos amigos também não tem. Nesse cenário colaborativo, como coloquei no meu post, o gerente é desnecessário, e até danoso.
Entendo teus argumentos, já os tinha visto antes, mas acredito que as premissas estão invalidas, e valem para um caso muito particular, mas que, nesse começo de século, ainda é o predominante.
Abraço!
elemarjr
07/12/2011
Giggio,
Concordo parcialmente com você. Concordo que empresas que tem como produto o conhecimento podem *começar* sem grandes aportes de capital. Já vemos isso acontecendo há algum tempo em escritórios de engenharia, advocacia e, mais recentemente, TI. Clínicas médicas também são um ótimo exemplo. Em todos esses casos, entretanto, há muito mais de “associativismo” que de empresa propriamente dita.
O problema é que o “conhecimento” como produto não é facilmente escalável. Enfim, a renda acaba sendo diretamente proporcional ao tempo e disposição dos envolvidos para entregar um trabalho. Com o tempo, surgem dois problemas difíceis de negligenciar: 1) disposição geográfica; 2) tendência a produtização.
Seja em um caso ou no outro, haverá a necessidade de recorrer ao capital. Consequentemente, haverá a necessidade de pensar em sua remuneração. Assim, voltamos ao dilema da necessidade da gestão.
Outro ponto importante é que um profissional deve fazer aquilo em que tem maior aptidão. Infelizmente, nem sempre isso está de acordo com aquilo que ele mais gosta de fazer. Na maioria dos casos, penso eu, ele precisará de “apoio” para perceber isso. Não sei se, em empresas maiores, ele encontrará esse suporte na equipe.
Por fim, concordo que o “trabalho” não é motivado apenas pelo dinheiro. Principalmente quando falamos em trabalhadores do conhecimento. Mas, esse é, sem dúvidas, um elemento importante. Remuneração invariavelmente é um tema tenso, principalmente em cenários onde seja difícil estabelecer uma relação entre o trabalho e o faturamento.
Outro aspecto importante é que, em ambientes democráticos, com o tempo, há a tendência de formação de “partidos”. Com isso, surgem também todas as mazelas decorrentes disso como: (1) favorecimento; (2) troca de favores, entre outras coisas. A tensão, nesses casos é crescente até que fatalmente ocorre uma ruptura.
Como já foi dito, acredito que o “inimigo” seja a direção e controle. Aqui sim, temos um problema sério e que precisa ser combatido. Principalmente em tempos de “conhecimento” (embora seja necessário em casos muito específicos).
[]s
Tenorio Duque
07/12/2011
Esse foi um dos pontos que argumentei no post do Giovanni: outros problemas virão. Isso é inerente ao ser humano, quanto antes aceitarmos isso, menos sofreremos. Novamente ratifico, não acredito em uma única solução, dada a complexidade do ser humano, dependerá de cada contexto a forma que melhor se aplicará.
elemarjr
07/12/2011
* comando e controle
Sergio Postarek
07/12/2011
Parabens pelo post. Definicao perfeita de capital e trabalho.
Acredito em times autogerenciaveis (desde que maduros) e também acredito na figura do gerente (de conta), que nao comanda mas intermedia a relação entre a equipe e o cliente.
Acho que vale um post tambem sobre “fire all the BAD team members”.
elemarjr
07/12/2011
Concordamos. “Comando e controle” são algo ruim na maioria dos casos.
Tenorio Duque
07/12/2011
Como comentei no blog do Giovanni, você me pareceu bem mais sensato em seus argumentos. Parabéns!
Fica difícil não pensar no que uma pessoa disse lá sobre o post parecer uma propaganda da empresa. =) Seria muito mais construtivo se o texto focasse em argumentos não falaciosos, exatamente como você o fez.
Abraços!
Miguel
07/12/2011
Comando e controle pode até funcionar por algum tempo, mas no caos é sabido que as melhores idéias vem do chamado “chão de fábrica”. Em um ambiente onde há prepotência de maneira alguma será possível que as pessoas envolvidas em um sistema de trabalho qualquer (e aqui não me atenho ao desenvolvimento de softwares) se comprometerem a esse ponto. Não gosto mesmo de uma pessoa pensando por mim, tomando decisões que interferem diretamente no maneira como me comporto, me visto, trabalho e dizendo que sou bom ou não para fazer algo ao qual muitas vezes se quer propus a fazer. Pior ainda pensar que essa pessoa que por muitas vezes está anos sentado em uma cadeira, totalmente desatualizado é mais apto a dizer o que e como as coisas devem ser feitas.
FIRE ALL MANAGERS sim!
elemarjr
07/12/2011
Novamente, acho que há uma generalização infeliz.
Ninguém define minha roupa. Muito menos, deixo de ser ouvido.
Dizer que todos os gestores trabalham com comando e controle é o mesmo que dizer que todos os brasileiros gostam de carnaval.